quarta-feira, agosto 08, 2007

Tenho andado desaparecido do universo dos blogs, ultimamente... Muito trabalho, horários a cumprir, algumas preocupações pessoais, falta de engenho para articular meia dúzia de palavras que tenham em si algo de genuinamente belo... De qualquer forma, vou tentar ser mais assíduo nas postagens, porque sei que ainda há quem passe por cá, à procura de qualquer coisa, por mais banal que seja, para ocupar o pensamento durante alguns instantes ;)

E porque nem todos os dias são bons para dar fluência à mente e aos dedos, resolvi manter dois blogs - o Outros Sons, porque sei que ainda há quem procure ouvir para além do que se diz no dia-a-dia por vezes frívolo e banal, e o Coisas da Vida de um Músico, para partilhar com aqueles que comigo vão vivendo a arte de falar com sons.

Um grande abraço a todos aqueles que comigo vão partilhando os gestos, palavras, olhares e acordes que vão dando sentido à vida. Até breve.

segunda-feira, abril 10, 2006












Um destes dias acordei mais tarde...

Era já hora de almoço, e saí para a cidade com outro olhar.
Com olhos de quem vê para lá dos olhos dos que passam.

Fui andando devagar, sem ligar ao tic-tac dos relógios, que nos tolhe o espírito e nos deixa cegos. Caminhei, saboreando pormenores deliciosos, daqueles que ignoramos, carregados com o peso da rotina...

Afinal, a rapariga do café sabe sorrir...

O Mondego ainda brilha... basta ter olhos brilhantes...

No riso das crianças vi esperança...

Descobri um ninho, e esqueci-me do tempo, a ouvir o melro...

Nesse dia, não estive perdido, não me senti pequeno... tinha o meu tamanho, porque os olhos estavam limpos.

E, afinal, basta sorrir. Olhar. Sentir.

terça-feira, fevereiro 28, 2006

Mas afinal,
que raio de alma és tu?!

És hoje
aquilo que ainda não sabes
que virás a ser.

Diamante em bruto,
segue em frente o teu caminho
que desbravas sem pudor.

Não desistas! Não consintas que cortem cerce
Essa vontade
De ter

Conhecimento
Amor
Vida e dor

São faces, meu querido, fases...
Não!
Não fazes mais, porque não podes fazer.

E, no entanto
Só dependes
Da exacta medida
Do teu Querer!

[texto dedicado por uma colega e amiga, 14/o6/o5]

domingo, fevereiro 12, 2006

Palavra

Quis a força do sentir e do pensar
Que as Palavras fossem armas de arremesso
E a fraqueza de uma nota consonante
Se tornasse numa outra dissonante
Mais concertante [talvez errante?]


Foi a Palavra canção, com sons saídos do nada
E foi apenas poema, à espera de ser cantada.
Foi traço de luz e cor [sem chegar a ser pintada!]
Foi o perfil do amor, soluço na madrugada.


Perdeu então a leveza, de ser tão pronunciada.
Sentiu seu peso no corpo, Palavra dura e cansada
E de tanto ser pensada, tornou-se chama apagada
Repetida bem no fundo sem nunca ser libertada.


E bem no fundo do Ser, apenas um pensamento
Se nos depara cá dentro sem ser machado que corta,
Mas a charrua que lavra.
P’ra que a vida nos revele a cada instante e nos faça perceber
O sentido da palavra

Palavra.

terça-feira, janeiro 31, 2006

Reflexão

"Quando se compõe, parece sempre bem; se fosse de outro modo, nunca se escreveria. A reflexão vem depois e rejeita-se ou aceita-se aquilo que se fez. O tempo é um bom crítico e a paciência a melhor das professoras. "

Chopin, 1846

Subscrevo as palavras do Mestre (e de outros mestres, claro!), e e transponho-as para uma tonalidade mais próxima. A Vida.

domingo, janeiro 15, 2006

Serenata em mi menor
(ou a violinista dos olhos tristes.)


Do fosso da orquestra saía o mais límpido dos sons...
E eras tu.
Na pureza daquele som, daqueles olhos vagos, tão vagos...
E tão tristes...

Serena, a melodia do teu corpo, com teu arco...
cada nota de ternura,
da triste calma que emanava o violino...
Eras tu, anjo caído ou demónio levantado,
e era a lágrima, e a flor, e a tempestade.

Sempre tu... e numa troca de olhares, num instante, uma só pausa...
mesmo sem trocar palavras, uma sequer que valesse...
Sempre nós, e a melodia sempre tua.

Sempre nossa.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Retrospectiva


Perdi-te tantas vezes em silêncio...
E em segredo te pedia que voltasses.

Quantas vezes te sonhei como tu eras...
[e o pavor que tinha que o não fosses!...]

Tantas vezes em teu corpo naveguei...
[e quantas, ancorado, naufraguei!]

E afinal, tu sempre foste
A derradeira brasa na fogueira...

Só faltavam as Palavras, leves sopros
Que te deixassem, outra vez,

Reacender.